A FILHA DO NGUMBIRI
Por: Ernesto Samaria
Encontravam-se no restaurante da pensão, almoçavam, subiam para o quarto e faziam amor. Foi assim durante oito meses, até ao dia que ela anunciou a gravidez.
-- Parece que estou grávida Max --- Suzeth falou com tranquilidade, praticamente já sabia qual seria a reacção do namorado.
-- Já fizeste o teste? --- Max não estava surpreendido, mas notava-se na sua voz uma certa decepção.
-- Ainda não. Mas o período está atrasado há quase dois meses.
-- Então só estás a desconfiar nê?
-- Desconfiar? Dois meses de atraso é tempo suficiente para tocar o alarme.
Max sabia que depois daquela informação a relação com a namorada nunca mais será a mesma. Ele amava-a e ao longo do tempo percebeu que ela também o amava apesar de ele ser 24 anos mais velho. Estava preocupado, com que cara um velho de 43 anos vai apresentar-se a família de uma menina de 19 como namorado? Constrangedor.
-- E se estiveres grávida, vais tirar nê?
-- Porquê tas com medo? Já falei na minha madrinha e na mãe.
-- Eu não quero ter problemas Suzete.
-- Ayé? Na hora do bem bom nunca tinhas problemas, agora estas com truques nê? --- Suzete fez uma cara ameaçadora e falou com determinação --- vais ter que se apresentar a minha mãe em Benguela e depois é só me arranjar uma casa e um carro.
-- Não vai ser necessário fazer pedido?
-- Só tenho que te apresentar na minha mãe. O resto é connosco.
-- Ok, agora vamos embora, vamos conversar no carro.
Max foi ao caixa pagar a conta, enquanto esperava o troco lembrou por um breve momento como conheceu Suzete. Ela era colega e amiga da sua primeira filha, vivia no bairro ao lado mas, quase todos os dias depois das aulas aparecia em casa com a filha para lanchar e ver novela. Tudo começou quando num dia chuvoso, a filha pediu-o para dar boleia a colega, Max deixou-a em casa, trocaram contactos e passaram a encontrar-se. Quando a filha percebeu, fez um barraco mas, mesmo assim, Max continuou a sair com ela.
De toda essa situação, a única coisa agradável para Max era a ideia de regressar a Benguela, da terra das acácias rubras tinha boas recordações. Foi lá onde em 1993 aos 21 anos fez a recruta e conheceu o primeiro amor da vida dele, era uma miúda linda, já não lembrava o nome dela, mas namoraram intensamente durante seis meses, até que num dia sem aviso ele e outros recrutas foram postos num avião militar e levados do Lobito para o município da Cahama no Cunene, nunca mais voltou a Benguela. Por isso, era com muita nostalgia que fazia aquela viagem, Suzete debatia com náuseas, tiveram que fazer todo o trajecto com os vidros abertos.
-- Os homens são mesmo estúpidos ya! Então dormiste com ela durante seis meses e hoje já nem sequer o nome dela lembras?
-- Não é estupidez Suzete, só sei que ela tinha assim um nome meio complicado, era M qualquer coisa o nome me fugiu mesmo, mas a gaja era boa, era uma baixinha muito esperta.
-- Assim se você cruzar com essa moça não vais lhe reconhecer?
-- Não sei, só vendo.
-- E isso não é estupidez?
-- Não é estupidez.
-- É.
-- Não é.
Foi com essa discussão trivial que chegaram a pomposa cidade do Lobito. Dirigiram-se directamente ao Compão, era aí onde Suzete tinha nascido e a mãe vivia com os irmãos dela e a Avó.
Em casa, Miló preparava as últimas fitas de carne, era sexta-feira dia de factura, no Compão era conhecida como “a rainha do pincho”, baixinha e muito “viva”, a sua forma de atender atraia muitos fregueses a sua barraca por isso, não podia deixar de vender naquele dia, mesmo sabendo que a sua filha mais velha estava a caminho, tinham passado seis anos desde que a filha passara a viver com a madrinha em Luanda. Ao sair de casa falou com uma das filhas.
-- A Suzi disse que vai chegar hoje, se vier me chamem estou a ir na barraca.
-- Está bem mamã.
As crianças brincavam na rua quando viram um Land Cruiser v8 preto estacionar perto da porta, pararam de brincar e começaram a espreitar de forma desconfiada, não conseguiam ver nada os vidros do carro estavam todos fumado. Entre as crianças, Suzete reconheceu dois: O paizinho de 11 e a Bebucha de 9 anos. Quando desceu, as crianças reconheceram-na e desataram a correr ao seu encontro. Uma das crianças foi até a estrada avisar Miló.
-- Mãe a mana Suzi já chegou, veio com um tio num carro grande.
Miló abandonou tudo e pôs-se a correr. Chegou em casa ofegante, abraçou demoradamente a filha.
-- Tas grande e muito bonita minha filha.
-- E a mãe continua rabuda como sempre.
As duas puseram-se a rir.
-- E o teu namorado está aonde? Me disseram que vieste com alguém.
-- Está no carro a falar ao telefone, vou lhe chamar.
Enquanto a filha saiu, Miló aproveitou para limpar o pó das cadeiras. Ouviu os passos da filha e uma voz masculina a pedir licença. Apressou-se em receber a visita a entrada de casa. Ia dizer:
-- Seja bem-vind...
As palavras não lhe saíram, Miló recuou rapidamente no tempo e reconheceu aquele homem, como seria capaz de esquecer a face do primeiro homem que lhe emprenhou a primeira vez?
-- Mãe esse é o Max --- Max estendeu a mão para cumprimentar a Senhora.
-- Esse Senhor é que é o teu namorado? A pessoa que te engravidou?
-- Já não te falei ao telefone mãe.
De repente Miló desatou aos prantos e a dizer:
-- Isso é azar, isso é azar, esse Senhor é teu pai Suzy, ele é o teu pai como é que foste logo engravidar com ele.
A FILHA DO NGUMBIRI
Por: Ernesto Samaria
Encontravam-se no restaurante da pensão, almoçavam, subiam para o quarto e faziam amor. Foi assim durante oito meses, até ao dia que ela anunciou a gravidez.
-- Parece que estou grávida Max --- Suzeth falou com tranquilidade, praticamente já sabia qual seria a reacção do namorado.
-- Já fizeste o teste? --- Max não estava surpreendido, mas notava-se na sua voz uma certa decepção.
-- Ainda não. Mas o período está atrasado há quase dois meses.
-- Então só estás a desconfiar nê?
-- Desconfiar? Dois meses de atraso é tempo suficiente para tocar o alarme.
Max sabia que depois daquela informação a relação com a namorada nunca mais será a mesma. Ele amava-a e ao longo do tempo percebeu que ela também o amava apesar de ele ser 24 anos mais velho. Estava preocupado, com que cara um velho de 43 anos vai apresentar-se a família de uma menina de 19 como namorado? Constrangedor.
-- E se estiveres grávida, vais tirar nê?
-- Porquê tas com medo? Já falei na minha madrinha e na mãe.
-- Eu não quero ter problemas Suzete.
-- Ayé? Na hora do bem bom nunca tinhas problemas, agora estas com truques nê? --- Suzete fez uma cara ameaçadora e falou com determinação --- vais ter que se apresentar a minha mãe em Benguela e depois é só me arranjar uma casa e um carro.
-- Não vai ser necessário fazer pedido?
-- Só tenho que te apresentar na minha mãe. O resto é connosco.
-- Ok, agora vamos embora, vamos conversar no carro.
Max foi ao caixa pagar a conta, enquanto esperava o troco lembrou por um breve momento como conheceu Suzete. Ela era colega e amiga da sua primeira filha, vivia no bairro ao lado mas, quase todos os dias depois das aulas aparecia em casa com a filha para lanchar e ver novela. Tudo começou quando num dia chuvoso, a filha pediu-o para dar boleia a colega, Max deixou-a em casa, trocaram contactos e passaram a encontrar-se. Quando a filha percebeu, fez um barraco mas, mesmo assim, Max continuou a sair com ela.
De toda essa situação, a única coisa agradável para Max era a ideia de regressar a Benguela, da terra das acácias rubras tinha boas recordações. Foi lá onde em 1993 aos 21 anos fez a recruta e conheceu o primeiro amor da vida dele, era uma miúda linda, já não lembrava o nome dela, mas namoraram intensamente durante seis meses, até que num dia sem aviso ele e outros recrutas foram postos num avião militar e levados do Lobito para o município da Cahama no Cunene, nunca mais voltou a Benguela. Por isso, era com muita nostalgia que fazia aquela viagem, Suzete debatia com náuseas, tiveram que fazer todo o trajecto com os vidros abertos.
-- Os homens são mesmo estúpidos ya! Então dormiste com ela durante seis meses e hoje já nem sequer o nome dela lembras?
-- Não é estupidez Suzete, só sei que ela tinha assim um nome meio complicado, era M qualquer coisa o nome me fugiu mesmo, mas a gaja era boa, era uma baixinha muito esperta.
-- Assim se você cruzar com essa moça não vais lhe reconhecer?
-- Não sei, só vendo.
-- E isso não é estupidez?
-- Não é estupidez.
-- É.
-- Não é.
Foi com essa discussão trivial que chegaram a pomposa cidade do Lobito. Dirigiram-se directamente ao Compão, era aí onde Suzete tinha nascido e a mãe vivia com os irmãos dela e a Avó.
Em casa, Miló preparava as últimas fitas de carne, era sexta-feira dia de factura, no Compão era conhecida como “a rainha do pincho”, baixinha e muito “viva”, a sua forma de atender atraia muitos fregueses a sua barraca por isso, não podia deixar de vender naquele dia, mesmo sabendo que a sua filha mais velha estava a caminho, tinham passado seis anos desde que a filha passara a viver com a madrinha em Luanda. Ao sair de casa falou com uma das filhas.
-- A Suzi disse que vai chegar hoje, se vier me chamem estou a ir na barraca.
-- Está bem mamã.
As crianças brincavam na rua quando viram um Land Cruiser v8 preto estacionar perto da porta, pararam de brincar e começaram a espreitar de forma desconfiada, não conseguiam ver nada os vidros do carro estavam todos fumado. Entre as crianças, Suzete reconheceu dois: O paizinho de 11 e a Bebucha de 9 anos. Quando desceu, as crianças reconheceram-na e desataram a correr ao seu encontro. Uma das crianças foi até a estrada avisar Miló.
-- Mãe a mana Suzi já chegou, veio com um tio num carro grande.
Miló abandonou tudo e pôs-se a correr. Chegou em casa ofegante, abraçou demoradamente a filha.
-- Tas grande e muito bonita minha filha.
-- E a mãe continua rabuda como sempre.
As duas puseram-se a rir.
-- E o teu namorado está aonde? Me disseram que vieste com alguém.
-- Está no carro a falar ao telefone, vou lhe chamar.
Enquanto a filha saiu, Miló aproveitou para limpar o pó das cadeiras. Ouviu os passos da filha e uma voz masculina a pedir licença. Apressou-se em receber a visita a entrada de casa. Ia dizer:
-- Seja bem-vind...
As palavras não lhe saíram, Miló recuou rapidamente no tempo e reconheceu aquele homem, como seria capaz de esquecer a face do primeiro homem que lhe emprenhou a primeira vez?
-- Mãe esse é o Max --- Max estendeu a mão para cumprimentar a Senhora.
-- Esse Senhor é que é o teu namorado? A pessoa que te engravidou?
-- Já não te falei ao telefone mãe.
De repente Miló desatou aos prantos e a dizer:
-- Isso é azar, isso é azar, esse Senhor é teu pai Suzy, ele é o teu pai como é que foste logo engravidar com ele.
Encontravam-se no restaurante da pensão, almoçavam, subiam para o quarto e faziam amor. Foi assim durante oito meses, até ao dia que ela anunciou a gravidez.
-- Parece que estou grávida Max --- Suzeth falou com tranquilidade, praticamente já sabia qual seria a reacção do namorado.
-- Já fizeste o teste? --- Max não estava surpreendido, mas notava-se na sua voz uma certa decepção.
-- Ainda não. Mas o período está atrasado há quase dois meses.
-- Então só estás a desconfiar nê?
-- Desconfiar? Dois meses de atraso é tempo suficiente para tocar o alarme.
Max sabia que depois daquela informação a relação com a namorada nunca mais será a mesma. Ele amava-a e ao longo do tempo percebeu que ela também o amava apesar de ele ser 24 anos mais velho. Estava preocupado, com que cara um velho de 43 anos vai apresentar-se a família de uma menina de 19 como namorado? Constrangedor.
-- E se estiveres grávida, vais tirar nê?
-- Porquê tas com medo? Já falei na minha madrinha e na mãe.
-- Eu não quero ter problemas Suzete.
-- Ayé? Na hora do bem bom nunca tinhas problemas, agora estas com truques nê? --- Suzete fez uma cara ameaçadora e falou com determinação --- vais ter que se apresentar a minha mãe em Benguela e depois é só me arranjar uma casa e um carro.
-- Não vai ser necessário fazer pedido?
-- Só tenho que te apresentar na minha mãe. O resto é connosco.
-- Ok, agora vamos embora, vamos conversar no carro.
Max foi ao caixa pagar a conta, enquanto esperava o troco lembrou por um breve momento como conheceu Suzete. Ela era colega e amiga da sua primeira filha, vivia no bairro ao lado mas, quase todos os dias depois das aulas aparecia em casa com a filha para lanchar e ver novela. Tudo começou quando num dia chuvoso, a filha pediu-o para dar boleia a colega, Max deixou-a em casa, trocaram contactos e passaram a encontrar-se. Quando a filha percebeu, fez um barraco mas, mesmo assim, Max continuou a sair com ela.
De toda essa situação, a única coisa agradável para Max era a ideia de regressar a Benguela, da terra das acácias rubras tinha boas recordações. Foi lá onde em 1993 aos 21 anos fez a recruta e conheceu o primeiro amor da vida dele, era uma miúda linda, já não lembrava o nome dela, mas namoraram intensamente durante seis meses, até que num dia sem aviso ele e outros recrutas foram postos num avião militar e levados do Lobito para o município da Cahama no Cunene, nunca mais voltou a Benguela. Por isso, era com muita nostalgia que fazia aquela viagem, Suzete debatia com náuseas, tiveram que fazer todo o trajecto com os vidros abertos.
-- Os homens são mesmo estúpidos ya! Então dormiste com ela durante seis meses e hoje já nem sequer o nome dela lembras?
-- Não é estupidez Suzete, só sei que ela tinha assim um nome meio complicado, era M qualquer coisa o nome me fugiu mesmo, mas a gaja era boa, era uma baixinha muito esperta.
-- Assim se você cruzar com essa moça não vais lhe reconhecer?
-- Não sei, só vendo.
-- E isso não é estupidez?
-- Não é estupidez.
-- É.
-- Não é.
Foi com essa discussão trivial que chegaram a pomposa cidade do Lobito. Dirigiram-se directamente ao Compão, era aí onde Suzete tinha nascido e a mãe vivia com os irmãos dela e a Avó.
Em casa, Miló preparava as últimas fitas de carne, era sexta-feira dia de factura, no Compão era conhecida como “a rainha do pincho”, baixinha e muito “viva”, a sua forma de atender atraia muitos fregueses a sua barraca por isso, não podia deixar de vender naquele dia, mesmo sabendo que a sua filha mais velha estava a caminho, tinham passado seis anos desde que a filha passara a viver com a madrinha em Luanda. Ao sair de casa falou com uma das filhas.
-- A Suzi disse que vai chegar hoje, se vier me chamem estou a ir na barraca.
-- Está bem mamã.
As crianças brincavam na rua quando viram um Land Cruiser v8 preto estacionar perto da porta, pararam de brincar e começaram a espreitar de forma desconfiada, não conseguiam ver nada os vidros do carro estavam todos fumado. Entre as crianças, Suzete reconheceu dois: O paizinho de 11 e a Bebucha de 9 anos. Quando desceu, as crianças reconheceram-na e desataram a correr ao seu encontro. Uma das crianças foi até a estrada avisar Miló.
-- Mãe a mana Suzi já chegou, veio com um tio num carro grande.
Miló abandonou tudo e pôs-se a correr. Chegou em casa ofegante, abraçou demoradamente a filha.
-- Tas grande e muito bonita minha filha.
-- E a mãe continua rabuda como sempre.
As duas puseram-se a rir.
-- E o teu namorado está aonde? Me disseram que vieste com alguém.
-- Está no carro a falar ao telefone, vou lhe chamar.
Enquanto a filha saiu, Miló aproveitou para limpar o pó das cadeiras. Ouviu os passos da filha e uma voz masculina a pedir licença. Apressou-se em receber a visita a entrada de casa. Ia dizer:
-- Seja bem-vind...
As palavras não lhe saíram, Miló recuou rapidamente no tempo e reconheceu aquele homem, como seria capaz de esquecer a face do primeiro homem que lhe emprenhou a primeira vez?
-- Mãe esse é o Max --- Max estendeu a mão para cumprimentar a Senhora.
-- Esse Senhor é que é o teu namorado? A pessoa que te engravidou?
-- Já não te falei ao telefone mãe.
De repente Miló desatou aos prantos e a dizer:
-- Isso é azar, isso é azar, esse Senhor é teu pai Suzy, ele é o teu pai como é que foste logo engravidar com ele.
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